Está disponível no canal oficial do IFC no YouTube o glossário de Eletromecânica em Libras – Língua Brasileira de Sinais. O material audiovisual é resultado do produto educacional desenvolvido por estudantes do ensino médio integrado ao técnico em Eletromecânica e servidores do IFC Campus Blumenau. O glossário é composto por mais de 150 sinais, sendo alguns já existentes e outros produzidos pela própria equipe do projeto. A produção foi realizada durante a disciplina de Projeto Integrador entre os anos de 2019 e 2021.
Samara dos Santos, tradutora intérprete de Libras Português e coorientadora do projeto em 2020 e 2021, explica que o projeto surgiu a partir da proposta de três estudantes, do 1º ano do ensino médio integrado ao técnico em Eletromecânica, Laura Cilene Zimmermann Dias, Luana Werner e Samira Mabili Cipriani.
“Luana Werner foi a primeira estudante surda, usuária da Língua Brasileira de Sinais (Libras), do Campus Blumenau, em 2019. Durante a interpretação das aulas, percebeu-se uma lacuna terminológica, indicada pelo uso recorrente de datilologia (alfabeto manual). Ao realizar pesquisa por sinais específicos em Libras para a área de Eletromecânica, constatou-se a inexistência de materiais, tão pouco foi possível encontrar sinais que possibilitasse fazer a relação visual com o objeto. Diante disso, se fez necessário convencionar sinais específicos para objetos e conceitos apresentados nas disciplinas técnicas”, revela Santos.
A partir desta constatação, Werner sugeriu a elaboração de um glossário em Libras no formato audiovisual na área de Eletromecânica. A proposta foi aceita pelas demais colegas de grupo na disciplina de Projeto Integrador que possui, no componente curricular, a elaboração de um projeto que integra os componentes técnicos com demandas sociais.
De acordo com a estudante, o glossário contribuiu para sua adaptação durante o período no IFC. “Facilitou a minha compreensão dos conceitos e equipamentos, pois no momento dos estudos, ao convencionar um sinal, me ajudava a guardar na memória, associando o sinal à palavra e ao significado. O principal benefício em ter este glossário é que, durante as aulas, facilita a comunicação entre o professor e o estudante surdo por meio do intérprete de Libras, e fora do IFC, o glossário pode contribuir para a formação da comunidade surda que trabalha na área de elétrica e mecânica. Eu espero que essa iniciativa, minha e do meu grupo, incentive outros Surdos a romper a barreira que a sociedade impõe sobre eles, reproduzindo que não são capazes de realizar os seus objetivos”, declara Werner.
A partir de 2020, o projeto passou a contar também com as estudantes Maria Eduarda Pereira e Vitória Gabriele Aragão. Além das estudantes e de Santos, integraram o projeto os professores e orientadores Alessandro Braatz e Fernanda Zendron (2019 e 2020) e Rafael Gonçalves de Souza e Sara Nunes (2021), também o professor Franz Kafka Porto Domingos, coorientador em 2019.
“Entre os diversos temas pesquisados, foram selecionados os de uso mais comuns, entre eles, máquinas industriais, eletrônica básica e resistência dos materiais. Porque o intuito é posteriormente disponibilizá-lo aos interessados, especialmente às empresas da região, a fim de atender os arranjos produtivos locais com funcionários surdos”, justifica a intérprete.
Segundo Santos, este material contribuiu para a formação da estudante e tornou-se imprescindível para os estudantes surdos que ingressarão no IFC. “Considerando que foi um trabalho elaborado pelas estudantes diante de uma demanda emergente no curso, o glossário foi um material no qual, durante o processo de pesquisa e convenção dos sinais, foi dedicado um estudo dos conceitos técnicos, por isso teve grande importância para a estudante adquirir o conhecimento, contribuiu para a sua formação. Além disso, ele aponta para a demanda de mais estudos sobre tradução e interpretação de termos técnicos, criação de material didático em Libras, entre outros, a fim de garantir acessibilidade a este público. Quanto à qualidade dos vídeos, notou-se um melhoramento significativo no decorrer dos anos, advindos do processo de amadurecimento das pesquisas e gravações feitas pelas estudantes”, observa Santos.
Em 2019, o projeto foi apresentado pelas estudantes em dois eventos institucionais: a Mostra de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cidadania (Mepec), no Campus Blumenau, e na Mostra Nacional de Iniciação Científica Tecnológica Interdisciplinar (Micti), no Campus Brusque.
Conheça os glossários produzidos durante o projeto: 1º Glossário de Eletromecânica: elementos; 2º Glossário de Eletromecânica: materiais de construção e 3º Glossário de Eletromecânica: máquinas industriais.
Núcleo Bilíngue (NuBi) no IFC
Elaboração de glossário em Libras é uma das frentes de trabalho desenvolvidas pela equipe do Núcleo Bilíngue (NuBi) no IFC, da qual Santos faz parte. Além do glossário de Eletromecânica, a equipe do NuBi desenvolveu e disponibilizou anteriormente o glossário institucional com os sinais referentes à identificação de cada campus, de alguns setores do IFC, além dos termos usados com grande frequência durante as reuniões e demais atividades na instituição. Os glossários são de uso público e podem ser acessados no canal oficial do IFC no YouTube.
Mara Kortelt, tradutora intérprete e responsável técnica no NuBi institucional da Reitoria, explica que o núcleo institucional é responsável pela política linguística de educação de surdos no IFC. “O NuBi tem uma estrutura multicampi, composta por tradutores intérpretes e docentes de Libras, e organiza-se em frentes de trabalho. A frente de trabalho 3 é responsável pelos Projetos de Pesquisa e Construção do Glossário. O objetivo é produzir glossários com termos técnicos dos diversos cursos dos diversos cursos, porque eles são recursos tradutórios importantes com vistas a subsidiar o trabalho dos tradutores intérpretes e a compreensão dos usuários de Libras”, apresenta Kortelt.
“Os sinais são criados por pessoas surdas, nativas da língua. No caso do glossário em Eletromecânica, os sinais são em sua maioria icônicos, ou seja, representam a imagem dos objetos. Esse projeto é uma contribuição para a comunidade surda e em geral, pois produziu material relevante, elaborando um glossário com sinais antes inexistentes”, destaca Kortelt.
Para conhecer todas as frentes de trabalho do Nubi IFC, acesse a página do núcleo.
Texto: Cecom/Reitoria/Rosiane Magalhães
Fotos: Mepec – Cecom/Blumenau/Gisele Silveira
Micti – Cecom/Reitoria/Rosiane Magalhães
Reprodução do YouTube