A experiência do Instituto Federal Catarinense (IFC) no processo de curricularização da Pesquisa e da Extensão nos processos Projetos Pedagógicos de Curso foi um dos temas centrais de um simpósio sobre o tema, realizado pelo Instituto Federal do Sudeste de Minas (IF Sudeste MG) no início do mês. Intitulado “Curricularização da Pesquisa e da Extensão: motivação e caminhos a seguir”, o evento teve como objetivo aproximar os servidores daquela instituição aos conceitos da curricularização e apresentar caminhos para a adaptação de seus esforços nesse sentido.
O IFC foi representado no evento pelo pró-reitor de Extensão do IFC, Fernando Taques, pela pró-reitora de Ensino, Josefa Surek, e pela pró-reitora de Pesquisa, Fátima Zago. Em suas falas, o grupo compartilhou experiências sobre a curricularização, a cultura de indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão que permeia as ações do Instituto, a integração do trabalho de suas pró-reitorias e conceitos e estratégias nesse âmbito.
A abertura do evento foi feita pela pró-reitora de Extensão do IF Sudeste MG, Rosana Machado, que também compôs a mesa de honra junto ao reitor André Diniz, a diretora-geral do Campus Juiz de Fora, Cláudia Coura, e pró-reitores de Ensino e Pesquisa, Wilker Almeida e Maurício Louzada. Em sua fala, o reitor destacou a ideia da indissociabilidade no processo de ensino-aprendizagem e a importância da instituição manter-se firme em seu propósito maior. “Eu sempre tive muito claro o que queríamos para o IF em termos de áreas finalísticas. E venho repetindo isso ao longo do tempo porque é preciso ir reforçando: o projeto [referindo-se à missão dos institutos federais] permanece e estamos trabalhando em cima dele. A cada passo que a gente dá, é uma vitória. Hoje é um desses dias.”
A trajetória do IFC
Segundo o conceito adotado no IFC, curricularizar a extensão e a pesquisa é executar ações interdisciplinares, de caráter educativo, cultural, científico, político e inovador, como carga horária curricular obrigatória para a integralização do curso. Tudo isso sob a perspectiva da construção de conhecimento e/ou da transformação social na comunidade onde estão inseridos os campi da instituição em questão. Mas como o IFC fez isso?
Segundo seus gestores, o IF Catarinense aprendeu muito a partir de diálogos coletivos, abertura que consideram essencial. Entre as diversas etapas até a elaboração de uma resolução que normatizasse a curricularização no IFC, houve consultas públicas, discussões e outras ações, incluindo o estudo dos PPCs de cursos técnicos e de graduação. Dessa maneira, coordenadores puderam visualizar oportunidades dentro de seus próprios casos, considerando que, na maioria deles, já existe na grade algum “gancho” para a curricularização. Segundo Josefa, e é este o exercício que precisa ser feito: “enxergar em nossos cursos os espaços que já existem para a Pesquisa e a Extensão e expandi-los.” Ela detalha que, muitas vezes, isso é feito a partir de experiências “vizinhas” e relembra: “olha, neste curso fizeram assim, será que também não seria interessante pra vocês?”
Fátima conta que a primeira experiência de inserção da Pesquisa e da Extensão no currículo o Ensino Médio (à época não havia a modalidade integrada) foi permeada por discussões e divergências. “Isso não é Pesquisa”, disse a pró-reitora da área, referindo-se ao que ouviu durante uma conversa. Depois de muitas reuniões e estudos, conseguiram inserir a iniciação científica nos anos iniciais do currículo e atividades extensionistas, ao final. No caso destas, havia uma preocupação em trabalhá-las especialmente nos cursos de natureza agrícola, portanto, a instituição começou muito cedo a integrar a Pesquisa e a Extensão ao Ensino cedo, sem nem saber como este processo viria a ser denominado. ”Nossa vivência fez com que encontrássemos estratégias e caminhos para curricularizar”, resumiu.
Estratégias
A Resolução nº 13/ 2022 do Conselho Superior do IFC apresenta estratégias para a curricularização da Pesquisa e da Extensão. O documento sugere ações destas áreas sejam inseridas:
– como disciplina específica;
– como parte da carga horária de disciplina;
– como atividade acadêmica, composta de ações de extensão e pesquisa nas modalidades previstas no art 4º, devidamente cadastradas na instituição.
Ao contrário do que se possa imaginar, a curricularização não implica a eliminação de atividades complementares de Pesquisa e Extensão. Ao contrário: estas continuam tendo seu lugar e não concorrem com a Pesquisa e a Extensão inseridas no processo formativo básico.
Sobre ações extensionistas, Taques reiterou que elas se materializam nas mais diversas formas: eventos, oficinas, projetos ligados a comunicação, cultura, educação, direito, justiça social, meio ambiente, entre tantas outras. “O aluno não precisa sair do curso sendo um ‘super pesquisador’ ou um ‘super extensionista’”, alertou, mas precisa ter a oportunidade de contato com estas experiências. Assim, até as ações consideradas mais simples importam. “Não é necessário romantizar”, destacou.
Quanto à Pesquisa, Fátima enfatiza o básico da atividade científica: “que o aluno tenha acesso a essa problematização, à busca por respostas, à criticidade… de preferência sobre temas relacionados à sua realidade”. Ela acredita que isso incentiva os próprios docentes a saírem de eventuais zonas de conforto e aponta a curricularização como responsável por uma integração generalizada, porém, gradual. Para ela, trata-se de uma construção cultural demorada: “Metamorfoses individuais e coletivas para se construir algo que acreditamos”, definiu. Sobre isso, Josefa complementou: “Educação é isso: pensar, repensar e evoluir”.
O IFC como referência
O processo de curricularização da Extensão e da Pesquisa no IFC foi diferente daquele do IF Sudeste MG, e também da maioria dos demais IFs. “Desde o início, o trabalho foi no sentido de curricularizar, ao mesmo tempo, a Extensão E a Pesquisa. Esse é o nosso grande diferencial”, explica Taques. “A lei dizia para que apenas a Extensão passasse a figurar no currículo; porém, uma vez que nós acreditamos na indissociabilidade de Ensino, Pesquisa e Extensão, vimos que aquela era uma oportunidade única para que o processo ocorresse conjuntamente, da melhor forma possível”.
O pró-reitor explica que, para que isso fosse possível, o trabalho articulado das pró-reitorias de Ensino, Extensão e Pesquisa foi fundamental — e que esse esforço conjunto é um dos fatores de interesse dos demais IFs no processo. “É nesse sentido que o IFC dá sua contribuição: mostrando o trabalho coletivo e articulado, objetiva justamente a indissociabilidade, de uma forma muito consciente, acreditando que conseguimos alcançar um novo patamar na qualidade da formação dos nossos estudantes e futuros egressos”.
“ O IFC é referência na curricularização da pesquisa porque é o único do Brasil que realizou o processo junto ao ensino médio já em 2017. Temos histórico de pioneirismo na área: o campus Rio do Sul trabalha nesse sentido desde o ano 2000 e o campus Camboriú, desde 2006”, explica a pró-reitora de Pesquisa”.
De acordo com Fátima, a curricularização é importante porque torna a Pesquisa acessíveis a todos os estudantes, e não somente àqueles que obtiveram bolsas. “O impacto na formação é grande, no sentido de melhorar a criatividade, a autonomia e as tomadas de decisão dos discentes — e essa influência permanece na vida pós-IFC. Na carreira acadêmica, a curricularização facilita a inserção em projetos de pesquisa e extensão e a busca por mestrados e doutorados por parte dos egressos, uma vez que eles já têm toda a base de funcionamento e da atuação; e mesmo quem não prosseguiu com os estudos acaba aplicando o conhecimento sobre o processo científico adquirido no Ensino Médio em ações e experimentações no ambiente de trabalho”.
“As trocas entre as instituições da rede federal são sempre muito ricas”, acrescenta Josefa Surek. “Ter os passos dados pelo IFC, até o momento, em torno da curricularização da extensão e da pesquisa reconhecidos é muito gratificante e demonstra a evolução da instituição na temática. Entretanto, é importante destacar que a cada discussão com a comunidade do IFC, aprendemos muito. E da mesma forma, os momentos que passamos com o IFSudeste de MG neste último encontro também foi de muito compartilhamento e aprendizado”, conclui.
Texto: Assessoria de Comunicação/IF Sudeste MG, com adições de Cecom/Reitoria/Thomás Müller
Imagens: Assessoria de Comunicação – IF Sudeste MG – Campus Juiz de Fora